Luxo, História, e o Taller de Casapueblo em Punta del Este

Aconteceu em 10 de Setembro de 2017...

Los Dedos

Com a chegada do segundo dia, uma alegria tomou conta de mim com a promessa de aventura que estava por vir. Afinal a chuva furiosa de ontem tinha finalmente dado uma trégua, e conforme meu leal aplicativo The Weather, não voltaria tão cedo. Nesse clima eu rapidamente me arrumei e desci para tomar o café da manhã do Hotel Shelton, que estava uma delícia. O destaque neste café fica para as medialunas, um pãozinho em formato de meia lua que se come tradicionalmente com café da manhã. Misturado com o famoso dulche de leche (doce de leite) uruguaio, fica uma tentação!

Por estar no final do inverno, eu esperava enfrentar um pouco de frio. No entanto quando coloquei os pés pra fora do hotel fui pego de surpresa por ventos de até 60 km! Nascido na cidade de Paraisópolis (MG), famosa pela sua ventania, eu jamais havia visto algo assim... Cada passo era dado como se tivesse nadando contra uma correnteza... Mas não se engane: eu estava com um sorriso no rosto! Era divertido andar assim e eu estava me sentindo aventureiro. Então comecei a andar pela península (que é um dos pontos mais famosos de Punta) e a explorar a cidade de verdade.

Era uma segunda de manhã, de um dia chuvoso, e de baixa temporada. Então a badalada Punta de Leste estava toda para mim, sem nenhum outro turista! Assim eu passei pela Avenida Gorlero, que é famosa pelos restaurantes e comércios, A Plaza General Artigas (nomeada pelo salvador da pátria. Falaremos mais dele em Montevidéu), com suas altas palmeiras, e finalmente ao famoso Porto da cidade, onde o Rio de La Plata (Rio da Prata) se encontra com o mar. Em alta temporada esse porto fica repleto de iates e barcos particulares, mas eu vi apenas lanchas e barcos de pequeno porte. Aproveitei para caminhar pela rambla (região costeira), andar pelo deck, e conhecer lugares como o Yatch Club, e o clube dos pescadores, que estava fechado.

Um pouco das praias e da Praça General Artigas
Ainda na região na Península (porém algumas quadras depois) encontrei outros dois cartões postais da cidade: o Farol, e a Igreja de Candelária. O primeiro fora feito no século XVII usando areia vulcânica (mais resistente do que cimento), o que garantiu sua preservação até hoje. Já a Igreja é de 1911, sendo que somente a fachada e o sino são originais e o resto fora restaurado em torno da década de 40. Apesar de serem belas construções e estarem muito bem conservadas, não havia visitação, então não tive muito o que explorar. Só achei curioso que o jardim em volta das mesmas era impecável, enquanto no quarteirão de baixo (onde nenhum turista tirava fotos) havia lixo num terreno baldio.

Outro ponto muito interessante nessa região foi a Esquina dos 4 Mares, um ponto onde em todas as direções que você olha, ou há o oceano, ou há o Rio de La Plata, dando a estranha sensação de estar ilhado! Eu gravei um vídeo para mostrar isso, mas ficou com muito ruído por causa do vento. Então recomendo abaixar o volume antes de dar o play:



O Farol
Continuando a caminhada em torno da península, cheguei a Playa de Los Ingleses, que recebera esse nome pois no passado alguns britânicos ficavam ali tomando o chá da tarde e admirando a paisagem. É uma praia pequena, perigosa para banhistas mas muito procurada para surfistas. Já a Playa del Emir leva o nome em homenagem ao Emir, um libanês que viverá numa pequena casa de frente para a praia.

Já na Playa Brava, que faz jus ao nome, é onde encontra-se um dos principais cartões postais de Punta. A estátua conhecida como Los Dedos, ou La Mano, ou Hombre Emergiendo a la Vida, é uma obra do artista chileno Mario Irarrázabal. Os dedos gigantes emergindo da areia são considerados uma escultura viva, pois ela pode estar mais ou menos visível dependendo do vento, areia, e o clima em geral. Os cinco dedos representam a harmonia dos cinco continentes, unidos pela paz mundial.

No mesmo ponto estava programado começar uma Free Walking Tour, que nunca apareceu. Entrei em contato com a empresa, e me disseram que apenas fazem a tour na alta temporada. Eu, particularmente, não gostei dessa postura, pois no site não falava isso, e eu fiquei lá esperando. De qualquer modo eu já tinha feito o percurso que eles iriam fazer de qualquer forma, então segui em frente.

Chivito - carne, ovo, presunto, queijo, alface, batata, e tudo o
que você imaginar! 
Seguindo o conselho da recepção do hotel, fui ao restaurante The Family comer chivito e tomar a cerveja da região chamada Patrícia (lembra uma Itaipava). O chivito é um tradicional lanche uruguaio que foi inventado em Punta Del Este, no restaurante El Mejillon. Mas devido à distância, eu preferi uma opção simples e mais próxima. O lanche estava muito gostoso e era mais barato do que a média.

Apesar de em minha pesquisa (feita no começo do ano) apontar preços menores, não espere almoçar por menos de 30~40 reais aqui num restaurante simples. Se for algo mais bem elaborado, prepare-se para bem mais. No entanto uma vantagem para turistas no Uruguai é o desconto de 18% para usar o cartão de crédito nos restaurantes. É um incentivo para turistas criado pelo governo, que é bem atrativo.

Terminado o almoço, o vento começava a parar, mas ainda assim havia uma garoa incessante. Eu já tinha conhecido toda a região da península, e os demais pontos turísticos de interesse estavam longe. Eu não queria arriscar molhar a minha roupa novamente e ficar sem roupas secas, então aderi a uma excursão de van pela cidade (por caríssimos 25 dólares).

Los Dedos
Nosso guia já tinha morado no Brasil e falava um português com um pouco de sotaque. Havia eu e mais um casal de brasileiros na van, e os demais eram de Argentina, Chile, Peru e etc. Então a maior parte do tempo o guia falava em espanhol e nem sempre era fácil de entender.

O primeiro roteiro foi dar uma volta na península e apresentar os pontos que eu já havia passado (a pé é bem mais interessante). Em seguida passamos pela estátua Los Dedos e seguimos em direção ao bairro Beverly Hills, lugar das mansões luxuosas. Punta é um destino muito procurado não só por milionários na América do Sul, mas também por muitos americanos. Durante o verão a cidade de 9 mil habitantes chega a receber até 600 mil turistas! O nosso guia tentou passar a imagem de que Punta é um paraíso, onde não há vandalismo, e as casas não tem cerca ou grade, pois não há violência. No entanto eu fiquei com a impressão de que isso é uma mera propaganda, pois pela manhã eu vi lixo espalhado e pichação como em todas as grandes cidades.

O passeio pelas mansões luxuosas não foi muito interessante, uma vez que estava chovendo e as fotos não ficavam muito boas. Mas foi interessante ver nomes conhecidos esbanjando luxo aqui como Fernando Collor, Donald Trump, Rubens Barrichello, a família Grendene (que paga multa anual por colocar muros e grades nas suas várias mansões), entre outras figuras. Demoramos mais tempo aqui do que eu gostaria.

Museu Taller de Casapueblo
Passamos em seguida pela Puente de La Barra, uma ponte ondulada que fora inspirado no corpo
de uma mulher. O motorista acelerou para termos aquele "frio na barriga" de quando o carro pula, e foi divertido.

Estávamos agora a caminho do grande clímax da viagem, e um dos motivos de eu acabar aderindo ao pacote da van. O museu Taller de Casapueblo, ateliê do artista plástico Carlos Páez Villaró. O museu fica um pouco afastado da cidade, e para ir de transporte público eu teria que caminhar dois quilômetros morro acima, com risco de chuva.

O ateliê trata-se na verdade de uma mansão, que fora construída ao longo de 40 anos pelas mãos do próprio artista. Seu estilo lembra muito o grego, mas fora mesmo inspirado em um forno de assar pães. Eu adoro fazer pães caseiros, e por isso já criei uma grande expectativa do lugar.

Na galeria de fotos no final do post você poderá ver muitas obras que eu achei interessantes. Algumas curiosidades de Vilaró é que ele começou, desde jovem, a pintar a vida noturna. Então nos primeiros quadros há muitas cenas de bares e prostíbulos no estilo abstrato. Depois, se interessou muito pelo negro, tornando-se um dos principais emissários pela luta da igualdade racial e pintando importantes quadros sobre. Também tinha um interesse especial pelo candombe (um estilo musical tradicional uruguaio, com muitos tambores. Não confundir com a religião candomblé) e por gatos, a quem considerava seus grandes companheiros. 

Pablo Picasso (esquerda) e Carlos Páez Vilaró (direita)
Ele também fora considerado o "Picasso da América do Sul", ficando amigo do próprio (que o admirava), além de inúmeras celebridades como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, entre outros que encontravam em Casapueblo asilo durante a ditadura no Brasil. Não é a toa que este é o terceiro lugar mais visitado da América Latina! Com sorte estava um dia chuvoso e o lugar estava vazio, estão pude andar tranquilamente pelos cômodos disponíveis, curtindo a boa vibração do lugar sem disputar fotos com turistas.

Carlitos também deixou este ateliê para ser um lugar onde todos pudessem visitar, e a arte não fosse elitizada. Tanto que era possível comprar réplicas oficiais de suas obras a partir de 30 dólares, que se considerar a beleza do trabalho e a importância do autor, era um preço muito justo.

E infelizmente chegava o final de tarde, e com ele o museu já iria fechar. O horário de fechamento é "ao por do sol", pois dizem que as luzes tingem de laranja as paredes brancas de Casapueblo e a experiência é muito bonita. Mas o tempo estava fechado, o que deu algumas vantagens e outras desvantagens como essa. Mas ao final não preciso nem dizer o quanto me apaixonei pelo lugar, e poderia passar ali mais muitas horas, tentando entender o que se passava na cabeça de Vilaró a cada obra. É aquela alegria que você pensa em poder voltar e trazer todo mundo junto!

Mas ao voltarmos para a van, o nosso passeio guiado estava encerrado, e eu ainda tinha tempo para aproveitar em Punta. Como era segunda-feira, os museus estavam fechados (olha a dica!), então pedi para o motorista me deixar mais próximo do Punta Shopping, para que eu pudesse caminhar até lá. O shopping é muito grande, e algumas lojas são bem parecidas com as que temos no Brasil (sempre tenho a mesma decepção em todos os lugares haha). Não é a toa que havia muitos brasileiros lá. Ao caminhar um pouco entre os corredores, eu achei as coisas muito caras. Punta é uma cidade para pessoas de alto poder aquisitivo, pois oferece todo o luxo que o dinheiro pode comprar. Mas por outro lado isso não é proporcional à qualidade de vida. Em alguns pontos nem se tinha calçada para pedestres, e as ruas pareciam serem feitas para carros somente.

Casapueblo
Enquanto caminhava de volta para o hotel, pude refletir com calma na importância que Casapueblo tem, e nesses aspectos da urbanização de Punta Del Este. Acredito que mesmo tendo enfrentado um clima desfavorável, eu consegui aproveitar e conhecer muito da famosa Península de milionários na América do Sul. Sem dúvida fica uma vontade de conhecê-la também em uma alta temporada, com o sol ao meu lado e turistas por todos os lados. Quem sabe num futuro? Só tomando a minha cerveja do meu iate e contando umas histórias malucas de viagens! 

Em meio a essa reflexão, encerrava o meu dia no quarto de hotel ao som de Simpsons na televisão e contando as novidades para a Midori (minha namorada) no Brasil. Não esqueça de curtir, comentar, compartilhar, seguir (e essas coisas), pois ajuda muito o blog a crescer. Espero vocês aqui no próximo post, onde irei para Montevidéu, capital do Uruguai, e lugar da primeira Copa do Mundo! Continue explorando comigo aqui, até a semana que vem! ;)


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