A história dos Judeus e a Fábrica de Schindler

Aconteceu no dia 5 de junho de 2016.


Placa em homenagem a Oskar Schindler

Depois de ter passado um longo dia e uma noite agitada no dia anterior, me permiti acordar mais tarde, pois este seria um dia mais tranquilo. Era meu último dia na cidade e eu estava sem zlotys (a moeda da Polônia), exceto por algumas moedas. Eu queria fazer ainda a turnê no Jewish Quarter mas o câmbio que me recomendaram ficava do outro lado da cidade. Qual a solução? Passar um dia em Cracóvia sem gastar nenhum zloty! Comi um pão na chapa com salame de café da manhã, já por volta da hora do almoço. Eu também tinha uma variedade de biscoitos, e sementes na mochila. Então se realmente eu precisasse comprar algo poderia usar meu cartão de crédito em uma grocery store.

Então me despedi de Konrad, meu anfitrião, Anette e Monia, que foram também estavam voltando para Varsóvia naquele dia. Como minha internet não funcionava muito bem, apenas consegui ver de onde o free walking tour iria sair, mas fiz confusão com o horário. Caminhei as pressas para o Jewish Quarter, e para meu desespero eu não encontrei ninguém. Fiquei um tempinho lá, apreciando a paisagem, e não demorou para um novo grupo de turistas se juntarem nas escadas. A guia também chegou com o seu guarda-chuva da equipe de turismo “Free Walking Tour” (existem outras também), porém com uma bandeirinha da Espanha no topo do guarda-chuva.

Sinagoga Ramuh
Fui até lá conversar com a guia, que me entregou um folder com todos os horários das tours (queria eu ter visto isso antes pra ir em todas). Lá estava eu no meu último dia, e a tour em inglês já tinha saído a uma hora atrás. Então eu olhei para a bandeirinha da Espanha, e ela olhou pra mim, e eu pensei: “tô dentro”! Eu não falo nada de espanhol, acredite, mas pra quem fala português, com um pouquinho de esforço, é possível entender.

Os judeus sempre sofreram preconceito na história da humanidade, e isso não é uma novidade do Nazismo. Desde sempre eles foram culpados pela morte de Jesus Cristo, e com a igreja tornando-se uma forma igual (ou até maior) do que o estado, os judeus eram literalmente excluídos da sociedade. Isso fazia com que eles se unissem e vivessem em comunidades para se fortalecerem. No caso de Cracóvia não era diferente, e o Jewish Quarter (bairro dos judeus) fora formado do lado de fora das muralhas do Old Square, ou seja, eram não eram nobres.

Escadaria usada no filme A Lista de Schindler
As Sinagogas são o equivalente a igrejas dos judeus, onde eles fazem suas atividades religiosas para Deus. Eu não vou me aprofundar aqui nessa parte religiosa para não falar de algo que não sei. Mas esses templos eram muito interessantes, pois sempre traziam consigo muita cultura, lendas, e claro, a história daquele povo.

Com a ocupação nazista no país, todos os judeus a princípio foram obrigados a se mudar para o Jewish Quarter, e posteriormente, foram enviados para o Gueto. O Gueto de Cracóvia foi um dos cinco maiores guetos judeus criados pela Alemanha nazista durante a ocupação alemã da Polônia na Segunda Guerra Mundial. Foi criado com a finalidade de exploração, terror e perseguição dos judeus poloneses locais, bem como a área de teste para separar os "trabalhadores capazes" daqueles que mais tarde seria considerado indigno de vida. O gueto foi exterminado em 1943, com a maioria de seus habitantes enviados para a morte em campos de concentração como Auschwitz. Os muros que separavam o Gueto do resto da cidade tinha o formato de lápides de cemitério, e as entradas e saídas eram fortemente vigiadas por soldados.

Memorial aos Judeus
Em homenagem aos que faleceram no gueto, foi criado em 2005 o Memorial aos Judeus na praça dos heróis. Trata-se de cadeiras de ferro que ficam dispostas por toda a praça, sendo que cada cadeira representa mil judeus mortos. As cadeiras vazias tem como objetivo transparecer o “vazio” que eles deixaram, e como também são utilizadas por turistas e moradores que estão a espera do ônibus, também representam que qualquer um pode ser uma vítima.

Também visitamos muitas ruas e trechos da cidade que foram utilizadas em cenas do filme “A Lista de Schindler”, de Steven Spielberg. Eu até então não tinha assistido ao filme, mas já adicionei na minha lista do Netflix e em breve vou assistir e olhar para as minhas fotos com saudosismo. De qualquer forma sabemos que o filme é uma referência, e é muito aclamado até hoje, tendo ganhado 7 Oscars.

Muro do Gueto (formato de lápide)
E por falar no próprio o ponto final de nossa caminhada foi na Fábrica de Schindler, que ainda hoje é um complexo industrial, embora a fábrica original já não funcione mais. Para quem ainda não assistiu ao filme, Schindler, apesar de ser alemão, contratava judeus para trabalhar na sua fábrica para salva-los do regime nazista. Ele dizia aos oficiais alemães que não poderiam levar aqueles judeus ali, pois sem eles ele não teria quem trabalhasse na fábrica. Assim ele salvou 1200 judeus durante o holocausto. Embora haja controvérsias quanto a ele ser um membro do partido nazista, após a sua morte Oskar Schindler foi condecorado com o prêmio “Justo Entre as Nações”, que o Estado de Israel dá a aqueles não-judeus que arriscaram sua vida para salvar judeus durante o holocausto.

Acredito que a exemplo de Schindler vemos que havia alemães que não concordavam com o regime nazista que lhes era imposto, mas para sobreviverem na ditadura tinham que fingir estar jogando o jogo. O Partido Socialista de Hitler chegou ao poder através de um golpe de estado, e apesar das controvérsias, isso não representaria o desejo de toda uma nação.

Fotos das pessoas salvas por Schindler
Se você estiver em uma tour como essa que eu fiz, lembre-se de acompanhar o guia conforme ele anda. No meu caso muitas pessoas ficavam pra trás tirando fotos e conversando, e isso fazia com que o guia demorasse para começar o próximo passo. Assim a caminhada atrasou em até uma hora, e ficou cansativa em certo ponto. Então não seja essa pessoa que atrasa o grupo.

Ao final da excursão infelizmente só pude dar algumas moedas como gorjeta, mas eles definitivamente merecem mais. A dedicação e paixão que os guias dessas empresas tem são incríveis. Eu saí de lá então já no final da tarde, e não tinha mais muito o que fazer a não ser voltar para a casa do Konrad e pegar minhas coisas. Meus ônibus sairia às 22 horas, e eu já queria chegar antes para poder me planejar.

Já no apartamento, fiz o download dos mapas de Budapeste e salvei a localização do hostel no Google Maps. A internet, que não era assim tão boa, resolveu colaborar comigo nessa hora. Então terminei de organizar minhas coisas e parti em caminhada em direção a rodoviária. Como eu ia andar uns 4 quilômetros até a rodoviária, deixei pra tomar banho quando chegasse em Budapeste. Primeiro pois já ia suar na caminhada, segundo pois colocar as toalhas molhadas na mala não seria uma boa ideia.

Letreiro da Fábrica de Schindler
Ao chegar na rodoviária tive um tempinho para ficar lendo e refletindo sobre minha aventura. Cracóvia era não só uma cidade cheia de história e cultura polonesa, mas também um dos destinos turísticos mais baratos da Europa, e não tão popular e lotado quanto Praga, por exemplo. Sem dúvida ainda havia muito em Cracóvia para se ver: as Minas de Sal, os Museus (há um subterrâneo embaixo do Mercado), e toda a história do Comunismo na Polônia, que foi o primeiro país a se opor ao regime de Stalin, muitos anos antes da queda do Muro de Berlim. Mas eu me diverti com o tempo que tive. Talvez com a estrutura de um hostel seria mais fácil para programar meus passeios, ou não. Mas a experiência que tive pelo Couchsurfing foi muito legal. Antes disso jamais poderia imaginar que uma pessoa do outro lado do mundo poderia abrir as portas da própria casa para você. Acho que ver tanto o Couchsurfing quanto o Blablacar (que compartilha caronas) funcionando restaura a minha esperança de o ser humano viver em harmonia com seus iguais.

E foi com esse sentimento de querer explorar ainda mais que eu entrei no meu próximo ônibus: dessa vez para Budapeste, na Hungria. Tive que ficar atento pois nem sempre a companhia que está no seu bilhete é a mesma escrita no ônibus. Mas fiquei maravilhado de ver que só precisava mostrar o QR code da passagem pelo celular (sem nenhum papel).

Ao ver as luzes de Cracóvia se afastando eu não pude deixar de lembrar de quando saí de Berlim. Era notável o quanto eu já havia mudado. Com apenas uma semana eu já me sentia como um viajante experiente, que sabia exatamente para onde estava indo... E que com uma boa música e seu inseparável travesseiro de pescoço, era capaz de ter uma boa noite de sono num ônibus a caminho de Budapeste.


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