Terrorismo, Heróis, e Banhos Medicinais

Aconteceu em 8 de Junho.

Király Bath - http://en.kiralyfurdo.hu/

Neste dia acordei um pouco mais cedo do que de costume. Como se tratava do meu último dia em Budapeste eu estava ansioso para aproveitá-lo ao máximo! Enquanto tomava meu café da manhã troquei mensagens com a Rita e combinamos de nos encontrar na grocery store Deak Prime, que ficava meio do caminho para os dois.

Opera House - http://blog.kenkaminesky.com/
De lá começamos o nosso roteiro passando primeiramente pela Opera House, que nesses dias não tinha nenhum espetáculo sendo exibido. Mas o interior da Casa de Ópera era luxuoso e gigantesco, com toda a pompa que se espera de uma ópera. Infelizmente minhas fotos não ficaram boas, mas vou deixar aqui uma foto do palco que encontrei na internet.

Saindo de lá fomos ao Museu House of Terror (Casa do Terror), que fica no mesmo prédio que já fora usado como base dos Nazistas e dos Soviéticos em períodos diferentes de ocupação na Hungria. Eu sei que eu falo bastante da Segunda Guerra, mas viajando pelo Leste Europeu é quase impossível não se envolver com essa fascinante história. E este museu em especial fora fortemente recomendado pela guia de ontem pela sua riqueza de detalhes.

House of Terror
E realmente a visita é de tirar o folego, pois fora cuidadosamente preparada com objetos da época, imagens, vídeos e até vestimentas. Tudo acompanhado de uma música macabra de fundo, com diferentes depoimentos nas telas que causavam um impacto muito forte. Mesmo as principais informações estando em Húngaro, havia folhetos em inglês contando a história de cada período. Fiz questão de pegar todos eles para fazer depois o meu dever de casa e me aprofundar nesse período da história.

O que mais me impressionou nessa visita foi esse aspecto visual tenebroso. Logo na entrada havia um tanque de guerra. Enquanto descíamos o elevador rumo ao porão que era usado como uma prisão, o elevador se movimentava lentamente ao som de uma música de suspense e um depoimento de um torturador de como as vítimas eram executadas enforcadas. Tive nesse momento uma indescritível sensação de que a qualquer momento o piso do elevador iria se abrir e iriamos cair numa armadilha.

Escritório intacto - Ao fundo retrato de Stalin
O porão (ou calabouço) era tão macabro quanto. Alguns cômodos foram mantidos intactos. Ver aqueles quartos escuros e úmidos com uma atmosfera pesada rapidamente me lembrou de Auschwitz. Recomendo dar uma olhada na galeria de fotos no final para ver a quantidade de artefatos que estavam expostos. Apesar de ter passado rapidamente pelo museu, se fosse ficar para ouvir todas as histórias e absorver todos os detalhes, era possível gastar uma manhã inteira lá (coisa que eu não tinha).

Então continuamos a caminhada para o Heroes Square (Praça dos Heróis), onde havia estátuas de figuras importantes na história do país. Dentre elas estavam os líderes das sete tribos pagãs que originalmente se uniram num pacto de sangue para formar o país Hungria. Achei louvável honrar os líderes fundadores da nação como heróis, e inevitavelmente fiz um paralelo com o Brazil. Da forma como o nosso país foi colonizado, pouco se sabe da cultura indígena, mas seria muito legal poder relembrar dos nomes dos líderes indígenas que fundaram nossa nação como verdadeiros heróis, e não apenas como selvagens. O interessante da Heroes Square foi poder ensinar essa história para a Rita, que apesar de já morar em Budapeste há algum tempo, ainda não conhecia suas origens. Fiquei me sentindo um guia turístico contando isso para uma moradora local!

Heroes Square
Logo ao lado da Praça conhecemos o interior do Castelo Vajdahunyad, que fora construído em celebração aos 1000 anos de Hungria. Em volta do castelo também há um lindo parque, onde os moradores locais gostam de fazer piqueniques e relaxar. Nessa hora eu me lembro de comentar com a Rita que eu queria poder contar as histórias da minha viagem em um blog. Ela ficou muito animada e me deu o maior incentivo! E não é que eu fiz?

Saindo do parque passamos numa cafeteria turca chamada Café Kara, onde tomamos um expresso saboroso, e um delicioso doce turco chamado Baklava, que é uma espécie doce com massa folhada. Lá conversamos mais e eu pude saber um pouco da história da minha amiga. Contei para ela sobre o Brasil e ela gostou de saber que nosso dinheiro está estampado o rosto de uma mulher, a Princesa Isabel. De lembrança eu a dei uma nota que tinha ali comigo.

Heroes Square
Ela tinha trabalho a fazer, então depois do café nós nos despedimos. Combinamos de nos encontrar mais tarde pra fazer algo (se a internet colaborasse), e eu prossegui com a minha jornada pela cidade.

Ao tentar procurar um lugar para comer, usei o app TripAdvisor, que permite procurar por restaurantes mesmo off-line. Porém depois de me deparar com dois que estavam fechados, eu decidi pegar um lanche mesmo e atravessar a ponte Margareth, que não apenas liga os dois lados da cidade, mas também dá acesso a ilha de mesmo nome.

Eu não pude deixar de parar para conhecer a Margareth Island então, que é uma enorme ilha transformada num parque e muito visitada pelos moradores locais. Para todo o lado na ilha se via grupos escolares de crianças, casais de namorados, grupos de amigos, família, todo o tipo de gente! Aquele era um local muito agradável. Havia jardins de diferentes flores de todas as cores, e fontes de água que formavam os mais incríveis desenhos dançando no céu. Como minha agenda estava apertada, eu apenas fiquei para tirar algumas fotos e continuei para o lado Buda da cidade.

Castelo Vajdahunyad

  
Budapeste é uma cidade muito famosa também pelos Banhos Medicinais, que são uma tradição turca trazida no período de dominação sob o Império Otomano. Eu não sabia o que esperar do tal banho, mas como todos gostam, escolhi ir à casa de banhos Király, que é a mais antiga e a menos movimentada da cidade. Afinal o banho era para relaxar, e não pra ficar desviando dos turistas. A casa era originalmente frequentada pelo rei e a nobreza, mas hoje em dia era aberta ao público.

Margareth Island
Como vocês podem imaginar, eu não levei a câmera para o interior da casa (isso seria estranho) mas o interior dela tem um aspecto medieval, e havia diferentes piscinas e saunas de diferentes temperaturas. A principio eu entrei numa piscina de 35ºC e fiquei ali curtindo, e encantado pelos feixes de luz que desciam do teto (veja primeira foto), mas sem entender o conceito do banho em si. Mas com o tempo eu fiz amizade com a Lilla, uma húngara muito simpática que adorava o lugar, e começou a me ensinar. Os banhos repletos de minerais têm uma série de benefícios como condição da pele, circulação sanguínea, diminui a retenção de líquidos, além de renovar as energias pela absorção dos nutrientes, minerais, e o choque térmico. Para aproveitar melhor os banhos o segredo era alternar entre saunas e banhos de quente para o frio, provocando o citado choque térmico no corpo. Isso relaxava os músculos, e somado a jacuzzi com bolhas no final, me fez curtir a tarde afora numa boa conversa.

Conversamos sobre muitas coisas, e sobre a vida na Europa. Lilla também exerce a mesma profissão que eu no Brasil, portanto deu pra ter uma boa ideia de como era a vida por lá.

Fonte romântica em Margareth Island (casal aleatório)
Passado horas e horas na água, já com os dedos definhando (sério!) e uma tremenda fome, decidimos ir comer algo. Voltamos então para o quarteirão onde ficava o meu hostel, ao lado do Szimpla, no Karavan Street Food, onde havia vários food trucks oferecendo uma variedade de comidas locais. Seguindo o conselho da Lilla e peguei um Lansgo, que é uma massa frita coberta com muito queijo e molho! O prato é muito saboroso, mas era tão grande e pesado que até guardei para a janta.

Depois que comi me despedi de minha amiga para ir ao hostel, onde finalmente tive internet novamente. Eu aproveitei para tentar entrar em contato com a Rita, mas não consegui, então comecei a fazer amizade com o resto do pessoal do hostel. Além do Jason, de Hong Kong, também estava no meu quarto o Rodrigo, da Argentina. Ele me mostrou fotos de um lugar incrível no seu país onde a vegetação verde se mistura com o gelo da Antártida! Enquanto arrumava minha mala e planejava minha saída de Budapeste, conversamos sobre coisas diversas como a diferença entre a cultura da América do Sul e na Ásia, sobre nossas aventuras na viagem, e nossos planos para o futuro.

A conversa estava tão boa que decidimos ir a um bar comprar cerveja. Nós entramos de pijama num bar de rock (e eu sou fã de rock) e acredito que o dono do bar não gostou muito da idéia. Ele nos cobrou um preço absurdo pelas cervejas e só avisou o preço depois que elas já estavam abertas. Ao final nos sentimos enganados (ou o famoso termo em inglês ripped off), mas a cerveja estava ótima.

Margareth Island
De volta para o hostel, mais pessoas se juntaram a nós: (se não me falha a memória) um francês, um espanhol, e uma senhora holandesa. Eu contei para eles o quanto aprendi da cidade, e eles ficavam todos espantados! A parte engraçada da noite foi quando o francês saiu do hostel e não conseguiu abrir a porta para entrar. Ele ligou no celular de emergência, que estava no salão principal, e não havia ninguém na recepção. Eu atendi e disse: “Amazing Hostel how may I help you?”. No final ele conseguiu entrar, e todo mundo ficou tirando onda da minha desenvoltura de atender. Acho que este é afinal um comportamento bem brasileiro, mas que causou boas risadas.

Ao final me dei conta de como Budapeste é um lugar muito fácil de andar, onde as atrações turísticas são todas próximas. Acredito que esta tenha sido a cidade que mais caminhei (cerca de 15km por dia). E ainda assim chegando ao final tive a sensação de que havia muito mais a se fazer: as cavernas subterrâneas, o labirinto do Castelo Buda, e muitas outras coisas. Budapeste e seu clima ensolarado sem dúvida me encantaram da mesma forma como Berlim, na sua forma acolhedora. Ficar alguns dias em uma cidade é pouco para se conhecer tudo o que ela tem para oferecer, mas acho que eu aproveitei bem. Fui dormir com o sentimento de que poderia ficar ali por mais algumas semanas... Mas dessa vez a despedida não seria saudosista. A esse ponto eu já começava a entender melhor essa dinâmica de uma viagem. Não importasse o quão divertido fora, sempre haverá algo mais para se explorar e tudo o que aprendemos, levamos conosco. E às vezes, colocamos num blog também...


Não perca no próximo post: Leopold Museum e a exposição de Gustav Klint em Viena.

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