Viena, Museus, e grandes amizades

Aconteceu em 9 de Junho.


Death and Life - Gustav Klimt


Budapeste

Nos dias de pegar a estrada eu já estava acostumado a acordar ansioso. Ora para não perder o horário dormindo demais, e ora ansioso pelo que ainda havia para se conhecer. Dessa vez não fora diferente, e assim que o celular despertou, eu já estava de pé arrumando a cama. Antes de me encontrar com minha carona do Blablacar, eu precisava passar numa grocery store para comprar um vinho. Eu queria presentear minha mãe nessa viagem, e os vinhos Húngaros são excelentes e muito acessíveis.

Tomei o meu café da manhã como de praxe, e peguei minhas coisas para fazer o check out. Então me despedi do Daniel, o dono do hostel, que tinha me dado muitas dicas do que fazer.

Pátio do Museum Quarter - Viena
A minha amiga Rita também quis se despedir, e nos encontramos na entrada do meu hostel. Ela me acompanhou na compra do vinho, e também até encontrarmos a motorista que me daria carona. Por sorte a motorista estava a uma quadra dali, e fomos andando até o hostel. Como ela já tinha decido para tomar café, nos desencontramos e eu já comecei a ficar preocupado. No entanto a recepção do hostel dela (Historic Apartment) fez a gentileza de ligar no seu celular, e nos encontramos no café em frente. Eram duas jornalistas de Munich que estavam a trabalho em Budapeste: Daniela e Cathrim.

Enquanto elas terminavam de comer, me despedi de Rita e agradeci pela ótima hospitalidade que tive. Nós continuamos mantendo contato e até hoje em dia ocasionalmente conversamos sobre coisas filosóficas.

Ao entrar no carro eu estava empolgado por pegar estrada pela primeira vez durante o dia, pois poderia ir curtindo a paisagem e fazendo novas amizades, mas o meu cansaço foi bem maior e eu simplesmente dormi! As meninas no banco da frente foram conversando em alemão, então não pude interagir tanto. E assim, num piscar de olhos estávamos fazendo uma parada para abastecer, e logo mais a nossa viagem de quatro horas chegava ao fim e eu estava na capital da Áustria: Viena.

Viena

Pierre Café Bistrô
Pegar esta carona com as duas jornalistas foi uma “mão na roda”, como dizem no ditado popular. Não só nos encontramos muito perto em Budapeste, como elas me deixaram em Viena na estação Westbahnof, que ficava a 2 quadras do meu hostel. Nem indo de ônibus eu conseguiria tanta facilidade assim!

Ao me despedir delas, caminhei até o hostel Ruthensteiner, curiosamente avaliado (na época) como o lugar número 1 para se hospedar em Viena, estando na frente de hotéis cinco estrelas e tendo um ótimo preço.

Tão logo fiz o check in, subi as escadas para guardar minhas coisas no armário e conhecer o meu quarto. Foi então que conheci meu colega de quarto Joan, da Itália. Ele já havia morado no Brasil por um bom tempo, e conhecia muito mais do país do que eu.  Logo ele falava e entendia português perfeitamente. E com cinco minutos de conversa, pegamos afinidade e decidimos ir caminhar juntos pela cidade. Como eu sempre digo, eu gosto dessa “magia” do hostel, onde se faz uma amizade com facilidade.

Leopold Museum
Na recepção procuramos informações de free walking tour, e bicycle tours, mas nenhuma das duas aconteceria nas próximas horas. Então decidimos caminhar por conta própria pela principal rua comercial da cidade (Mariahilfer Straße), onde havia restaurantes, shoppings, e as principais lojas da cidade. Conforme a fome bateu, encontramos um restaurante austríaco chamado Pierre Café Bistrô. Aqui o Joan me ensinou uma importante lição de vida: Parar de ficar tentando traduzir o menu, e pedir o especial do dia! Assim comemos um delicioso espetinho de frango, com pimentão, bacon e cebola, acompanhados de sopa de frango com macarrão e uma caneca de chope Gösser (maior cervejaria austríaca, do grupo Heineken).

Saindo de lá caminhamos até o centro histórico da cidade, onde fomos ao Museum Quarter. Assim como em Berlim, o de Viena também era um complexo com diferentes museus. Todos eles pareciam grandes palácios e o pátio que dava acesso a eles se parecia com um intervalo de faculdade: pessoas conversando, deitadas, usando o celular e descontraindo o tempo.

Berlinde de Bruyckere - Leopold Museum
O Joan estudou arquitetura, então visitamos três galerias. A primeira fazia uma paralelo de como a arquitetura foi evoluindo com a história em Viena, citando diferentes fatos históricos como: construções baratas no período comunista, estilo da época, e como a arquitetura da cidade era afetada por guerras e conflitos. A exposição em sua maioria são fotos e textos, então talvez não seja muito interessante para o público em geral. Mas eu gostei de poder fazer comparações com a mesma história e arquitetura que aprendi nas demais cidades.

Em seguida, fomos numa exposição que mostrava os melhores edifícios do ano na Europa, premiados em um concurso de arquitetura. Alguns eram conceitos bem inovadores, mas honestamente, ver as maquetes dos lugares não empolgava muito, e essa exposição foi um pouco cansativa.

Theodor Von Hörmann

Mas o grande carro chefe da nossa visita foi a Galeria de Arte Leopold Museum: um complexo de quatro andares com exposições de diversos artistas famosos, além de outras obras da coleção da galeria. É claro que não somos nenhum especialista em arte, mas ficamos chocados e encantados com a variedade de obras que vimos. Vou tentar passar um breve sentimento de cada um aqui...

A começar pela Berlinde de Bruyckere, uma artista belga com exposições de estátuas macabras de animais e do corpo humano. Sempre deformado e grotesco... Foi um grande choque para mim, que não estou acostumado com arte moderna.

Theodor Von Hörmann  - Construção da Torre Eiffel
Já a de Theodor Von Hörmann foi para suavizar, já que ele se especializou em pintar paisagens e suas obras contam muito da história de Paris e Viena. Foram belos cenários que variam de acordo com a época em que eram pintados. No final de sua carreira, começou a se interessar por flores, fazendo quadros ainda mais ricos em detalhes.

As estátuas de Wilhelm Lehmbruck contam muito de seus problemas amorosos e familiares, apresentando sempre a figura feminina como um mistério. O segurança estava no nosso pé nessa hora, e não possível tirar muitas fotos. Mas todas as esculturas eram riquíssimas em detalhes e mistério.

Já a exposição de Egon Schiele, que faz parte da coleção Leopold, é uma exposição cheia de autorretratos, nudez, e críticas pessoais. Esta é a maior coleção sobre Egon no mundo, que vai desde o prodígio no início de sua carreira, ao período expressionista, e a sua morte. A coleção ainda está em exposição na data de publicação deste post.

Wilhelm Lehmbruck
No entanto o destaque da galeria, e o queridinho de todo o público é o pintor Gustav Klimt, o maior e mais influente pintor da Áustria no período de 1900. Com famosas obras como “Morte e Vida” e “O Beijo” (que não estava exposta ali no dia), o extenso trabalho deste pintor é encantador, com muita complexidade e beleza nos traços.

Eu não sou nenhum especialista em arte, mas essa visita sem dúvida foi especial. Vou deixar um curto vídeo sobre a galeria, e o link do site oficial onde eles falam sobre as exposições e resenham obras que já passaram por lá. Caso tenham interesse confiram aqui: Leopold Museum.

Ao sairmos do Museum Quarter, já era o final de tarde. Nós fizemos um caminho diferente para voltar para o hostel, passando pelo Naschmarkt, uma rua que funciona como um mercado municipal de Viena, com vendas de produtores e muitos restaurantes conceituados. Infelizmente, devido ao horário, a grande maioria dos lugares já estavam fechando. Então seguimos o caminho e fomos comer em outro lugar.




De volta à região do nosso hostel, as grocery stores próximas estavam fechadas. Então pegamos um khebab grande por apenas cinco euros, e levamos para comer na cantina do hostel. Pela minha experiência no primeiro dia em Berlin, já sabia que os khebabs são deliciosos! Ao sentarmo-nos à mesa da cantina, conhecemos uma chilena chamada Constanza (que também é blogueira, vai lá visitar ela também).

Egon Schiele'
Eu meio as nossas rodadas de chope, o Joan nos ensinou a jogar um jogo de cartas chamado Bakará (uma espécie de Blackjack onde a unidade é importante). Ao bom e velho estilo alemão, as canecas de chope de meio litro desciam facilmente!

Você já pode imaginar a bagunça de se juntar uma chilena, um italiano, e um brasileiro, correto? Nossa conversa foi de portunhol, italianês, e tudo o que você pode imaginar, menos inglês. Logo depois chegou o Mike, da Etiópia, que também falava um pouco de tudo. Para ser sincero, no início da viagem eu até queria gastar bastante meu inglês, e até fiquei com um pouco de receio de falar em português. Mas some a isso o fato de que o barman (Vitor) era brasileiro, e havia um português trabalhando no hostel, e pronto! Nessa grande mistura, em meio a improvisações e se comunicando como dava, conseguimos nos interagir muito bem. Ao final tive uma sensação de orgulho, de ser um cidadão do mundo, ser parte de algo maior.

Exposição Viena 1900
Ainda pra completar a mistura nessa noite, uns indianos muito malucos queriam jogar poker apostando dinheiro, e um jogo chamado oneflash (ninguém aprendeu a jogar). E por final apareceram duas espanholas chamadas Marta. Percebi que o espanhol da América do Sul é bem mais fácil de entender do que o da Espanha de fato.

Toda essa conversa, cerveja e jogos seguiram madrugada afora! Logo no primeiro dia de Viena nós já éramos amigos dos funcionários do hostel, e para todos que viam eu, Joan e Constanza perguntavam: “Há quanto tempo vocês três estão viajando juntos?” de tão rápida e natural que foi nossa interação!

Eu mal tinha chegado em Viena, mas já sabia que nessa cidade o que mais me marcaria não seria o passeio turístico, mas sim a amizade que fizera no hostel Ruthensteiner. Um agradecimento especial nesse post ao Joan, que lembrava o nome da maioria dos lugares que visitamos, e que perdeu no Bakará =)


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No próxmo post: Viena em 1 dia: uma visão geral dos acontecimentos históricos, palácios reais, seus imperadores, e grandes compositores como Mozart e Beethoven! Não percam! 

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