Desbravando Berlim

Aconteceu no dia 30 de Maio.

Passado a noite de susto e atrasos de ontem, decidi dormir por apenas cinco horas. Afinal dormir nas férias é uma perca de tempo. Logo me levantei, tomei um banho e fui descer para o café da manhã. Eu quase perdi o horário para o café, pois acordei tarde, mas o pessoal do Baxpax Downtown Hostel foi bem legal e me deixou pegar a "saideira" do buffet. O valor era de seis euros, mas se considerar pela facilidade de comer a vontade e ter tudo ali dentro do hostel acaba valendo a pena.

Enquanto comia aproveitei para agendar online minha visita ao Reichtag Building, o Parlamento que tem uma abóboda de vidro com visão periférica da cidade. De barriga cheia eu estava pronto para iniciar minha aventura, certo? Bem, não tanto. Acontece que com a experiência de ficar perdido na rua na noite anterior eu tive um certo receio de não saber me virar sem internet (mal do século). Com o WiFi do hostel mandei whats para alguns amigos já acostumados a viajar e perguntei se eles recomendavam comprar um chip de celular, ou algo do gênero. Mas foi conversando com os funcionários do hostel que descobri que eles tinham disponível gratuitamente um mapa de papel com as principais atrações da cidade. E foi então que me baixou o espírito Indiana Jones de sair em direção ao Memorial do Muro de Berlim.

Nas ruas de Berlim tudo parecia novo e lindo. Tirava fotos da arquitetura de prédios comuns a carros esportivos. Com um mapa na mão e uma câmera na outra, estava bem estampado na minha testa o esteriótipo de turista. Mas não me importei, estava orgulhoso de estar saindo sozinho e chegar até o Memorial.

O Memorial é composto de uma galeria coberta, com vídeos e depoimentos, e uma galeria externa onde ainda há restos do antigo muro e outras exibições. Logo que cheguei uma chuva de verão começou a cair, daquelas rápidas, porém intensas. Eu até tinha uma sombrinha meio quebrada, mas ela não iria aguentar muito tempo, então corri para a entrada do memorial onde havia outras pessoas se escondendo da chuva. Engraçado como algumas coisas não acontecem por acaso na nossa vida... Para o meu azar grande parte dos museus, inclusive este, ficava fechado na segunda-feira. Mas para a minha sorte, fiz amizade com Anders e Kaelan, de Londers, com quem prossegui minha aventura em Berlim,

Com a chuva dando uma trégua terminamos de ver a exposição. Havia história de como pessoas tentavam atravessar por túneis subterrâneos, pessoas que morreram tentando atravessar, e outras que tiveram sucesso. Também havia as ruínas do que sobrou da antiga Igreja da Reconciliação, uma igreja que foi dividia no meio pelo muro e passou a ser um símbolo da divisão da cidade. Após a queda do muro, a igreja também foi demolida devido a imagem que se ficou associada a ela.

Como o museu estava fechado, conhecemos algumas das histórias vividas ali e decidimos voltar no dia seguinte para ver a galeria interna. Em meio a nossas conversas eles me ensinaram a utilizar o Google Maps offline para me localizar. Para a minha surpresa o GPS do celular funciona independente da internet e é possível fazer o download do mapa simplesmente dando um zoom na região desejada. Assim também pode aprender a usar o Trip Advisor offline para encontrar restaurantes.

E por falar em restaurante foi nessa hora que a fome bateu. Anders e Kaelan me levaram para experimentar um kebab gigante próximo ao Hackescher Markt por apenas 4 euros. Eu já havia "configurado" meu cérebro para comer de tudo nessa viagem, sem nenhuma frescura. Então simplesmente pedi pra colocar tudo o que tinha disponível no meu. O resultado foi tão gostoso que após voltar de viagem até já tentei reproduzir o kebab numa versão tupiniquim.

Importante ressaltar que comer a 4 euros é muito barato na Alemanha. O que você não deve fazer é ficar o tempo todo convertendo o para a sua moeda local. Pois a economia da Europa é baseada em euro, não reais. Já diria a frase: "Quem converte não se diverte".

Em seguida fomos a uma grocery store comprar cervejas, e eu tive outro choque cultural... Eu já sabia que na Europa havia muitas cervejas de qualidade a preço baixo, mas ver uma Erdinger que pagamos cerca de 30 reais no Brasil sendo vendida por 1 euro me deixou boquiaberto e encantado pela vida em Berlim. Sem pestanejar comprávamos sempre duas: uma para ir bebendo na rua e outra reserva ficava na mochila.

Estávamos caminhando agora em direção ao Reichtag Building, onde coincidentemente nossos horários de visita eram os mesmos. No caminho aproveitamos para sentar um pouco na praça do Museum Island, um complexo com cinco museus gigantescos e uma linda catedral. Havia música ao vivo no lugar e pessoas relaxando na grama, fazendo ginástica, entre outras coisas. Um lugar muito agradável. A cultura em toda a Europa é tratada com muito prestígio, e todos os museus se parecem com verdadeiros palácios.

Também passamos por belos lugares como a Universidade Humboldt, e o seu monumento à queima de livros no Nazismo, as capelas Francesa e Alemã que são quase idênticas, e outros belos pontos turísticos até finalmente chegarmos ao parlamento. Curiosamente todos os parlamentos que visitei tem uma arquitetura típica de templos gregos, pois é uma referência as origens da democracia na Grécia antiga. Caso você faça a reserva no mesmo dia como eu fiz, tenha certeza de ter o comprovante salvo no seu celular, pois possivelmente seu nome não estará na lista.

A cúpula de vidro é um espetáculo a parte! Nela há a história da cidade de Berlim com fotos históricas dos principais eventos que já aconteceram no parlamento, e textos muito explicativos. Também há um guia em áudio gratuito para a rampa em espiral na cúpula. Enquanto se tem uma visão de 360º da apaixonante Berlim, também aprendemos sobre todos os obstáculos que a cidade que já passou, e como ela sempre se reergueu e perseverou por períodos sombrios da história.

Nossa jornada pela história da cidade continuou no Checkpoint Charlie, um antigo posto de guarda para travessia do muro que ficava fortemente vigiado por um tranques de guerra e soldados de ambos os lados. Hoje é apenas um local turístico onde você pode ter o seu passaporte carimbado, e está rodeado de galerias com fotos históricas também. Então atravessamos para a "Berlim Ocidental" em direção ao bairro Kreuzberg e sua famosa vida noturna. Nessa travessia também fiz uma importante descoberta para todo mochileiro: as grandes redes de fast food (como McDonalds, Burguer King, Star Bucks e etc.) tem WiFi grátis, banheiro, e uma tomada para recarregar o seu celular. É bem comum na Europa ter uma pessoa de idade cobrando 50 centavos de euro para manutenção do banheiro. Mas quando você está comprando uma cerveja nova a cada esquina, desfrutar de banheiros gratuitos é uma salvação.

Chegando do outro lado da cidade era possível notar como realmente se parecia com outra cidade. Desde a arquitetura dos prédios, parques e ruas, tudo parecia ter uma característica própria. Kreuzberg é uma das regiões mais agitadas da cidade, mas infelizmente numa segunda feira até os clubes mais recomendados estavam vazios. Então continuamos fazendo a saudosa via sacra pelas grocery stores, conhecendo diferentes bares e pontos da cidade, e ao final experimentando a tradiocional Currywurst de Berlim. O lanche é gostoso e barato, podendo custar na média de 2 euros, mas não é nenhuma experiência gastronômica inesquecível: apenas um pão pequeno com linguiça suína grande e mostarda.

Já um pouco alegre demais de caminhar pelo paraíso da cerveja, me despedi de meus amigos no final da noite e voltei para o hostel, que estava bem movimentado na área de jogos e no bar. Então parei para conversar com algumas pessoas, e dentre elas conheci um alemão de Hamburgo. Ele estava passando uns dias por Berlim e me deu várias dicas do que fazer tanto ali quanto na sua cidade natal, pela qual eu passaria depois.  O lugar mais recomendado para se visitar segundo ele no entanto não estava em Berlim, mas em Potsdam, uma cidadezinha aos arredores da capital, que estão conectadas pelo sistema de metrô. Eu gosto de ver como algumas coisas simplesmente são coincidências demais, então sorrindo, respondi para o alemão: "Estou indo pra lá amanhã de manhã".

E essa história não para aqui...

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