Embarque

Aconteceu no dia 28 e 29 de Maio.

Hoje é o dia: "coragem e determinação, meu amigo" dizia meu grilo falante. Foi uma manhã bem tranquila: acordei bem cedo, tomei um café da manhã, um banho... até então uma manhã como outra qualquer. A princípio pensei que poderia ir de carro para o aeroporto com um amigo. Mas acabei decidindo ir de ônibus mesmo para Campinas pra evitar mais ansiedade, e também ir de circular para a rodoviária pois me dá mais flexibilidade e não dependo de carona. Sim, Campinas foi mais barato do que Guarulhos (beijo pro meu pai).

Foi meio difícil despedir dos meus filhotes gatos Mocha e Moti. Eu sei que eles vão ficar em ótimos cuidados com minhas vizinhas que são uns amores, mas aquele aperto no coração faz parte.

A coisa mais curiosa de hoje foi o Google Now: o app utiliza os cookies e histórico de navegação pra te atualizar sobre assuntos que te interessem. E hoje ele simplesmente me avisou logo cedo sobre o vôo para eu não atrasar, e ainda foi capaz de avisar em tempo real o atraso do vôo (sim, atraso de 3 hrs 😭).

Mas minha chegada em Campinas foi tranquila, peguei um ônibus pro Aeroporto mesmo sabendo do atraso pois tinha esperanças que tudo saísse no prazo. E também não tinha muita coisa pra fazer na rodoviária mesmo.
O aeroporto Viracopos estava vazio, e a única fila era a do meu vôo. Já fiz o check in no terminal automático e garanti lugares na janela. Coisa de marinheiro de primeira viagem, pois queria ter certeza de ver tudo. Impressionante como um grande número de pessoas fica na fila para fazer o check in. Eu também não conhecia quando cheguei, mas o terminal automático era bem chamativo. Depois fui descobrir que até pelo celular é possível fazer sem a necessidade de papel.

O atraso de 3 hrs foi uma boa troca, pois com isso ganhei um voucher de R$45 pra comer e eu estava morrendo de fome. A comida de aeroporto é sim caríssima, mas já que estava com esse voucher me arrisquei até pagar um pouco mais por um petit gateu, que por sinal estava uma delícia.

De barriga cheia, comecei a me preparar para cruzar os portões para a terra sem leis, o mundo mágico do capitalismo, o Duty Free. Não tem como não parar e dar uma xavecada nos whiskies e vinhos super baratos. Bem, nem tanto com o dólar a 3,5 reais né, mas muita coisa compensava se comparado com os preços de supermercados.

No portão de embarque tive umas horas pra ficar relaxando na internet e lendo um e-book no celular. Jamais leve livros numa viagem, pois eles pesam demais. A não ser que você realmente não consiga se adaptar ao e-book. Nesse caso escolha livros pequenos, e deixe As Crônicas de Gelo e Fogo em casa.

As 20:50 a aventura começou pra valer em um Airbus A330. A minha poltrona não estava reclinando, e o comissário disse que poderia trocar de lugar. Mas eu olhei pras minhas duas janelas lindas e decidi ficar. E foi uma viagem muito agradável. Dormi um pouco e também assisti ao filme Deadpool (super engraçado). Pra minha supresa tivemos 2 refeições muito gostosas: uma janta e um café da manhã. Superou as espectativas pelo tanto que vejo pessoas reclamarem.

Lisboa

O cronograma inicial da viagem era fazer a conexão em Lisboa, ficando na capital Lusitana por não mais do que duas horas. Mas com o atraso de três horas do meu vôo eu já estava esperando o pior: teria que pegar o próximo vôo. Logo que cheguei no aeroporto uma funcionária já estava com o meu ticket de bordo em mãos, e para a tristeza do mochileiro eu teria que esperar por mais sete ou oito horas por lá. E claro, novamente com almoço grátis. Mas decidi não me incomodar tanto com isso. Afinal esta era minhas férias e imprevistos acontecem. Acabei comendo um x-bacon com fritas e cheesecake no Clockworks pois o lugar tinha uma vibe muito legal: "Good food, positive vibes". 

O aeroporto de Lisboa é gigante, mas não tão incrível já que se parece com um shopping em São Paulo. As lojas são todas aquelas que já conhecemos, e todos falam português com um sotaque esquisito. A dificuldade em entender o português de Portugal nem é tanto no sotaque, mas no hábito que eles tem de falar muito rápido. Pra minha sorte a maioria chegava falando em inglês comigo hehehe

Eu pensei que seria uma boa ideia conhecer a cidade no meu tempo livre e até pesquisei alguma coisa do TripAdvisor, mas como não tinha feito planos ficar por ali fiquei com um pouco de receio de sair e perder a hora de voltar. Ao final da viagem relembrei desse momento, e com toda a experiência adquirida, se eu passar por uma situação parecida novamente certamente vou bater perna pela cidade!

Mas fiquei mesmo é batendo perna no aeroporto, curtindo a minha seleção de blues no Ipod, lendo um livro, conversando com os amigos no Brasil. Eu até instalei Skype para conversar com minha família enquanto viajava, mas acabei só usando mesmo nesse dia de espera no aeroporto.

Quando passei pelo portão de embarque tinha uma praça de alimentação, e aos meus olhos brilhou distante um letreiro luminoso que dizia: Cerveja. Não pude evitar a curiosidade de tomar uma típica cerveja portuguesa. Não que fosse algo impossível de se encontrar no Brasil, mas todo time joga melhor em casa. Então experimentei a Super Bock tipo lager. Uma cerveja bem encorpada e muito gostosa, mas nada comparado com o que estava por vir ainda.

No final da tarde bateu o cansaço e cochilei um pouco sentado. Mas tentei ao máximo me manter acordado de medo de perder o avião. Até que cheguei ao meu portão de embarque e me permiti um cochilo. Tive a primeira sensação de estar a caminho da Alemanha ao ver que todas as pessoas a minha volta eram bem característicos alemães: cabelos bem loiros e pele avermelhada. Sim, finalmente estava a caminho de Hamburgo.

Minha viagem para Hamburgo foi com um A-319, e também teve serviços de bordo e uma refeição mediana. Mas o meu cansaço foi tanto que eu simplesmente dormi a viagem toda de quatro horas.

Hamburgo

Chegando em Hamburgo já me senti muito empolgado. Não importava se já era 22:30, eu sabia que era ali que minha aventura realmente começava. Mas ao mesmo tempo me bateu a sensação de urgência. Já era tarde da noite e eu ainda tinha que chegar em Berlim! Hamburgo mesmo só iria aproveitar nos últimos dias...

Fiquei feliz de ver minha mochila na esteira junto com outras bagagens e vi que o sistema funciona! Maravilha! Com o WiFi do Aeroporto consegui ver alguns horários de ônibus e também Blablacar (aplicativo de compartilhar caronas). A melhor opção me pareceu o ônibus mesmo, mas eu estava no aeroporto e precisava chegar no ZOB (estação rodoviária intermunicipal). Rapidamente pedi informação a um funcionário do Aerporto que foi muito prestativo me ensinando a como comprar o ticket do metrô e em qual estação descer. Eu estava tão desesperado que não gravei todas as informações, e tive que pedir ajuda a um casal que nem falava inglês sobre como chegar no "Bus Station".

E aí eu tive meu primeiro choque: o transporte público não tem catraca! As pessoas simplesmente compram o ticket por honestidade de fazer a parte delas com o todo. O sistema funciona! Depois fui saber que periodicamente tem um fiscal que verifica os tickets, coisa que vi apenas uma vez nos dias que estive na Alemanha. Simplesmente fiquei maravilhado com o senso de ética e cidadania do povo. Inevitável comparar como isso não funcionaria no Brasil.

No metrô pedi ajuda para uma outra garota que me explicou detalhadamente como eu teria que correr. Eu desceria no Hauptbahnhof (Central Station em alemão) e teria que andar até a ZOB (Bus Station). Pelo tempo que o metrô levava para chegar até lá eu já estava preparado para correr como nunca para pegar o último ônibus para Berlim... e foi o que fiz!

Por sorte eu já tinha visto a foto do ZOB pela internet e reconheci de longe o belo teto em formato de meia lua. Corri ainda mais rápido e consegui pegar meu ônibus prestes a sair. Foi possível comprar a passagem direto com o motorista e saiu pouca coisa mais cara apenas. Era um ônibus Flixbus que ia de Hamburgo para Pragua, passando por Berlim.

O ônibus era bem confortável, mas não fiz muitas amizades. Ao meu lado tinha um garoto vietnamita que não falava nada de inglês. Cheguei até a me perguntar como ele se virava nas viagens. O WiFi do ônibus não estava funcionando então não consegui me programar muito bem sobre Berlim, mas eu pude anotar o endereço do meu hostel e verificar que ele era próximo a torre Alexanderplatz.

Como o ônibus ia até Pragua não consegui relaxar completamente a ponto de dormir, pois tive medo de perder o ponto para descer. Foram quase quatro horas de viagem pensando: chegando no Alexanderplatz, como eu faço pra chegar no Hostel? Eis o grande desafio de não ter WiFi disponível.

Berlim

Chegando no Alexanderplatz em Berlim eu sabia que estava a menos de 2km do meu hostel, mas de fato não sabia como chegar lá. Ao descer no ônibus imediatamente me assustei com o fato de estar sozinho as 4 da manhã e não ter a mínima ideia de para onde ir. Após recorrer a algumas pessoas encontrei um cara me mostrou no seu Google Maps qual Tram (bonde elétrico) pegar, onde era a estação, onde comprar o ticket e tudo o que eu precisava saber. Me lembro de como eu estava assuntado ao perguntar: "Mas é seguro andar aqui de madrugada?". Vendo que provavelmente eu não conhecia muito sobre a Alemanha, ele sorriu e respondeu: "Claro, porque não seria?". E esse foi outro choque cultural para mim, pois em minha própria cidade não acho tão seguro assim andar de madrugada na rua. Mas aqui era. Eu agradeci e tirei uma foto tosca e sem foco com o celular da torre Alexanderplatz. Mas a visão era parecida com essa foto que peguei na internet.

Chegando ao Hostel fiz o meu check in com um sentimento de vitória - eu finalmente estava lá! Até subir e me arrumar para deitar já eram 5 da manhã, e um colega de quarto roncava freneticamente naquele momento. Mas com o cansaço dessa minha longa viagem aquele barulho não importava, e era passageiro. Não demorei para me virar e dormir tranquilamente, com o sentimento de que amanhã seria o início da caminhada.

Comentários

Postagens mais visitadas